A relação entre viver em uma cidade poluída como São Paulo e doenças pulmonares ou câncer é bem conhecida. Os problemas, no entanto, vão além. Uma pesquisa inédita aponta que a exposição de longo prazo à poluição atmosférica está diretamente ligada ao aumento dos riscos cardíacos em moradores da capital paulista. Para indivíduos hipertensos o perigo é maior.
O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com o apoio da FAPESP. A investigação mostra que a fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração, está relacionada ao tempo de exposição às partículas de carbono negro, um indicador de poluição atmosférica.
Os pesquisadores fizeram a análise das autópsias de 238 pessoas e de dados epidemiológicos para mensurar essa relação. Eles também entrevistaram familiares das vítimas para recolher informações sobre fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão. A partir da observação macroscópica do tecido pulmonar estabeleceram a presença e quantidade da fração de carbono negro nos pulmões. Amostras de miocárdio revelaram a fração de fibrose cardíaca.
Os resultados revelaram associação significativa entre a fração de carbono negro nos pulmões e a fibrose cardíaca nos indivíduos estudados. Isso significa que, quanto mais tempo uma pessoa é exposta à poluição, maior a probabilidade de desenvolver a fibrose. A presença do marcador de doenças cardíacas cresce com o aumento da presença do indicador de exposição à poluição, tanto em fumantes quanto em não fumantes. E os maiores riscos foram observados principalmente nos tabagistas.
A hipertensão é uma doença que pode ser silenciosa e não apresentar sintomas. Em dez anos a taxa de mortalidade passou de 11,8 óbitos para 100 mil habitantes, em 2011, para 18,7 em 2021. Cerca de 60% dos idosos que vivem no Brasil têm hipertensão.
A poluição nem sempre está à vista de todos e pode ser mais prejudicial em alguns locais. A exposição à poluição dentro da mesma cidade depende de fatores como hábitos e deslocamentos das pessoas. Diversos fatores, como a própria hipertensão, influenciam no desenvolvimento da fibrose cardíaca. A pesquisa da USP destaca a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal. As estratégias eficazes na mitigação dos impactos da poluição atmosférica na saúde pública incluem a redução das emissões de veículos, o incentivo ao transporte público sustentável na cidade e o incentivo de fontes de energia limpa.
