Denominada de Amazônia Azul, a área marítima sob jurisdição brasileira no oceano Atlântico tropical tem apresentado aumento na acidez ao longo de duas décadas, colocando em risco os ecossistemas marinhos. A elevação da acidez afeta principalmente os corais, que representam um importante oásis de biodiversidade no oceano e servem de habitat para diversas espécies, como os peixes. Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e do instituto de pesquisa alemão GEOMAR publicaram essa observação em um artigo na revista “Frontiers in Marine Science”.
A acidificação do oceano está relacionada ao aumento na concentração de dióxido de carbono (CO₂) na água do mar. Esse gás, capturado da atmosfera, é um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas e é emitido por atividades como desmatamento e queima de combustíveis fósseis.
Segundo o estudo, em duas décadas, a concentração de dióxido de carbono no Atlântico tropical aumentou em média 10%. O pH da água diminuiu aproximadamente 0,001 unidades por ano, representando uma queda de cerca de 0,4%. O pH é classificado em uma escala logarítmica – quanto menor o valor na escala, maior a acidez. Portanto, qualquer alteração pode ter um grande impacto na química do oceano. As espécies mais afetadas pela diminuição do pH são aquelas com estruturas de carbonato de cálcio, como os corais.
A análise considerou dados de temperatura e salinidade da superfície do mar, coletados entre 1998 e 2018 por uma boia localizada na porção norte do território brasileiro. A boia faz parte do projeto Prediction and Moored Array in the Tropical Atlantic (PIRATA), uma colaboração entre Brasil, França e Estados Unidos para monitorar variáveis meteorológicas e oceanográficas no oceano Atlântico tropical, incluindo a região brasileira conhecida como Amazônia Azul. Com os dados coletados, os pesquisadores utilizaram modelos experimentais para estudar o comportamento do carbono na superfície marítima, o que permitiu estimar o pH e os níveis de dióxido de carbono na água.
Embora a acidificação do oceano devido à absorção de CO₂ seja um processo conhecido, o aumento na concentração desse gás em uma região tropical chamou a atenção dos pesquisadores. O oceano Atlântico tropical, por ser uma região com temperaturas mais altas, tende a absorver menos efetivamente o CO₂ atmosférico. O aumento significativo nas concentrações de CO₂ na água em uma região tropical alerta para os impactos das emissões humanas, mesmo em regiões onde se esperava menor influência.
O estudo preenche uma lacuna importante de informações sobre o oceano Atlântico tropical oeste e destaca a necessidade de tomar medidas para reduzir os impactos das mudanças climáticas globais. O próximo passo pode ser ampliar a coleta de dados sobre a acidificação, utilizando outras boias na região. Isso poderia fornecer uma visão mais abrangente de como o Atlântico tropical oeste está respondendo às mudanças ambientais e às emissões de CO₂.
