Ela mais tarde acrescentou, de forma um tanto confusa, que “o grupo de hackers Sandworm tem algo em comum [conosco] … Este é o comandante-chefe de nosso Exército Cibernético”. Não ficou claro, no entanto, se esse comentário se referia a um líder compartilhado que supervisiona os dois grupos – ou até mesmo um tipo de líder ideológico imaginário, como o presidente russo Vladimir Putin – ou se Julia quis dizer que o Sandworm em si dá ordens ao Exército Cibernético, em contradição com suas declarações anteriores. Julia não respondeu aos pedidos de esclarecimento da WIRED sobre essa questão ou, de fato, a quaisquer perguntas após aquele comentário.
Uma Máquina de Hype Hacktivista
Especialistas russos em guerra da informação e operações de influência com quem a WIRED compartilhou o texto completo da entrevista observaram que, apesar das alegações do Exército Cibernético da Rússia agir como uma organização independente de base, ele adere de perto aos pontos de vista do governo russo, bem como à doutrina de guerra de informação publicada pelo exército russo. A retórica do grupo sobre mudar “mente e corações” além das linhas de frente de um conflito por meio de ataques direcionados à infraestrutura civil reflete um conhecido documento sobre “confronto de informações” do general militar russo Valery Gerasimov, por exemplo. Outras partes dos comentários de Julia – uma polêmica não provocada contra “relações sexuais não tradicionais” e uma descrição da Rússia como uma “Arca de Noé cultural conservadora do século XXI” – ecoam declarações semelhantes feitas por líderes russos e mídia estatal russa.
Nada disso prova que o Exército Cibernético da Rússia tenha mais do que os laços tênues com a GRU que a Mandiant descobriu, diz Gavin Wilde, um pesquisador sênior focado na Rússia do Carnegie Endowment for International Peace. Ele argumenta que os comentários do grupo parecem ser uma tentativa de ganhar pontos com um possível patrocinador governamental, talvez na esperança de obter uma relação mais oficial. “Eles estão realmente tentando aprimorar sua mensagem, mas não necessariamente para um público ocidental, tanto quanto para tentar marcar pontos domesticamente e com possíveis benfeitores políticos ou financeiros em Moscou”, diz.
Em um ponto da entrevista para a WIRED, na verdade, Julia expressou explicitamente esse pedido de mais apoio governamental oficial. “Eu realmente espero que o Exército Cibernético do Povo da Rússia tenha grandes perspectivas, que nossas agências governamentais não apenas nos prestem atenção, mas apoiem nossas ações, tanto financeiramente quanto por meio da formação de tropas cibernéticas plenas como parte das Forças Armadas russas”, ela escreveu.
Fora da conversa com a WIRED, o Exército Cibernético da Rússia posta em seu canal no Telegram em russo, não em inglês – uma jogada estranha para um grupo que afirma estar tentando influenciar a política ocidental a seu favor. Outras operações de influência russas criadas pela própria GRU, como os fronts Guccifer 2.0 e DCLeaks criados para influenciar a eleição presidencial de 2016, escreveram em inglês. Até mesmo outros grupos “hacktivistas” visando a infraestrutura crítica civil, como o Predatory Sparrow ligado a Israel, assumem a autoria de seus ataques na linguagem de seus alvos – no caso do Predatory Sparrow, postando no Telegram em persa em uma aparente tentativa de influenciar os iranianos.