No início de setembro, Nour estava tendo uma noite comum em casa em Beirute – comendo sementes de abóbora e assistindo Netflix – quando a mensagem de texto atingiu seu dispositivo como a versão para smartphone de um tijolo arremessado pela janela. O nome do remetente aparecia como oito pontos de interrogação, “????? ???”, e na pré-visualização da mensagem, ela podia ler, em árabe truncado e difícil de entender, uma ameaça: “Temos balas suficientes para todos que precisam delas.” Para Nour, cujo nome foi alterado para proteger seu anonimato, era óbvio quem tinha enviado essa mensagem. “Israel,” ela diz, “esse é o tom deles.” O exército israelense não respondeu à pergunta da WIRED sobre se eram a fonte da mensagem. Mas o texto apareceu em um momento em que o Líbano estava tenso, dias após Israel e o grupo sediado no Líbano, Hezbollah, terem trocado ataques aéreos e foguetes. Não está claro quantas outras pessoas receberam a ameaça SMS, embora Nour tenha dito que viu capturas de tela em redes sociais da mesma mensagem. Ela estava preocupada que o texto pudesse conter um link malicioso. “Não ousei abrir,” diz Nour.
No Líbano, a ideia de receber uma mensagem de Israel não é nova. No início dos anos 2000, pessoas no Líbano receberam telefonemas gravados, pedindo informações sobre o piloto israelense desaparecido Ron Arad, cujo avião caiu durante uma missão de bombardeio nos anos 80 e agora é dado como morto. Da última vez que Nour recebeu uma mensagem de um remetente que ela acreditava ser de Israel, foi em 2006, quando era adolescente morando nos subúrbios do sul de Beirute. Ela lembra de atender o telefone fixo e ouvir uma voz robótica anunciar uma mensagem que começava com as palavras: “Querido povo libanês.” Essa ligação seguiu um mês de guerra, que matou mais de 1.000 pessoas e forçou 900.000 a fugir de suas casas.
A violência acompanhou a mensagem de texto da semana passada também. Israel e Hezbollah têm trocado tiros desde o início da guerra em Gaza, com uma escalada significativa ocorrendo esta semana. Os últimos ataques aéreos israelenses em alvos do Hezbollah no Líbano foram os mais mortais em décadas, com 558 pessoas mortas apenas na segunda-feira, de acordo com o ministro da saúde do país.
Na quarta-feira, o Hezbollah lançou um foguete contra Tel Aviv, que foi derrubado. Não houve relatos de vítimas. Enquanto as pessoas no Líbano verificam a segurança de suas famílias e amigos, “a maioria das pessoas agora está mais ligada aos seus telefones do que o normal,” diz Mohamad Najem, diretor executivo do grupo libanês de direitos digitais SMEX. Essas mensagens furam a sensação de segurança que as pessoas costumam sentir com seus telefones. “Definitivamente está criando [um sentimento de] insegurança e medo.”
Do outro lado da fronteira, civis em Israel também têm recebido mensagens ameaçadoras, com as mensagens sinistras demonstrando o papel psicológico que os smartphones pessoais estão desempenhando no conflito, em ambos os lados da fronteira.
Na semana seguinte após Nour receber aquela mensagem, outras pessoas no Líbano, conforme relatado, começaram a receber mensagens via chamadas automáticas em seus telefones fixos ou por texto. “Se você está em um prédio com armas do Hezbollah, mantenha-se afastado da vila até novo aviso,” dizia a mensagem, ecoando chamadas semelhantes recebidas em Gaza antes de um ataque aéreo. Entre 8h e 8h30 da manhã de segunda-feira, 80.000 pessoas em todo o Líbano receberam essas mensagens, de acordo com um porta-voz da rede de telecomunicações libanesa Ogero que preferiu não ser identificado. Uma dessas chamadas chegou ao gabinete do ministro das comunicações do Líbano, Ziad Makary, que atribuiu a mensagem à guerra psicológica dos israelenses.