Pesquisadores Brasileiros Trabalham Para Transformar o Agave na ‘Cana do Sertão’

As alterações climáticas estão provocando um aumento da área com clima semiárido no Brasil. De acordo com dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), essa região tem se expandido em 7,5 mil quilômetros quadrados por ano desde 1990, o que equivale a cinco vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Essa situação pode prejudicar o cultivo de certas plantas, como a cana-de-açúcar, utilizada na produção de bioenergia.

Diante desse cenário e com o objetivo de encontrar soluções para mitigar as mudanças climáticas, um grupo de pesquisadores brasileiros começou a buscar plantas com potencial para gerar bioenergia e que possam ser cultivadas em regiões desfavoráveis para a cana-de-açúcar. Assim, decidiram estudar o Agave, um gênero de plantas suculentas que engloba mais de 200 espécies e é amplamente utilizado no México para produzir a tequila.

Esse trabalho recebe suporte de projetos da FAPESP no âmbito do projeto Brazilian Agave Development (Brave), uma parceria que envolve diversas instituições de ensino e pesquisa, como a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a empresa Shell, Senai Cimatec, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp). O objetivo é transformar o Agave na “cana do sertão”, visando a produção de etanol, biometano, bio-hidrogênio e biochar.

Além disso, os pesquisadores têm coletado diversas espécies de agave no Brasil e em outros países para formar um banco de germoplasma. Eles investigam o fenótipo das plantas, analisando a composição de açúcares, a taxa de fotossíntese, o crescimento, a necessidade de irrigação, entre outros fatores. Com base nessas informações, desenvolvem estratégias para superar os desafios relacionados à transformação do agave em uma cultura energética viável para regiões semiáridas.

Um dos desafios encontrados é relacionado ao metabolismo da inulina, um tipo de açúcar presente no agave. Para contornar essa questão, o grupo desenvolveu uma cepa geneticamente modificada capaz de lidar com a inulina. Além disso, foram patenteadas leveduras modificadas para metabolizar outros açúcares presentes no agave. Também estão em desenvolvimento bioestimulantes e fertilizantes para acelerar o crescimento dessa planta.

O objetivo final do projeto é promover a produção sustentável de biocombustíveis a partir do agave, contribuindo para o desenvolvimento de alternativas energéticas em regiões afetadas pelo clima semiárido.