Com o passar do tempo, Deep State adicionou mais recursos avançados e peculiaridades ao mapa. Uma barra de ferramentas no canto inferior esquerdo oferece a opção de ativar diferentes camadas, incluindo padrões de clima, fortificações e níveis de radiação gama em caso de desastre nuclear. Os usuários podem simular o efeito de diferentes armas, calculando o alcance e o dano potencial de tudo, desde obuseiros autopropulsados e mísseis balísticos até sistemas de defesa aérea Patriot e explosões nucleares. Um “ovo de Páscoa” escondido invoca uma animação do Baby Yoda que, quando cutucado, usa a Força para destruir unidades russas.
Logo o mapa se tornou grande demais para Mykula e Pohorilyi gerenciarem sozinhos; eles agora contam com a ajuda de mais de 100 funcionários pagos e voluntários. Seus métodos também evoluíram. Eles ainda usam inteligência de código aberto para verificar novas informações, mas também adquirem dados diretamente de unidades militares da linha de frente com as quais desenvolveram relacionamentos. Em alguns casos, a autoridade de uma única fonte em quem aprenderam a confiar é suficiente, embora Mykula admita que houve erros ocasionais. Em outros casos, quando várias fontes se contradizem, eles esperam até que evidências definitivas surjam. A propaganda é abundante em ambos os lados, e Mykula insiste que Deep State não participará dela. “Queremos vencer”, diz ele. “A propaganda não vencerá.”
Porém, Mykula e Pohorilyi acatam quando comandantes militares ucranianos solicitam adiamentos nas atualizações do mapa que possam comprometer suas atividades. Eles também recebem financiamento do governo para uma versão alternativa do mapa disponível apenas para membros verificados das Forças Armadas. O financiamento do governo também se destina a outras atividades de inteligência que Ruslan se recusa a discutir; a maior parte do financiamento deles vem de doações públicas.
No final do primeiro ano de guerra, Mykula e Pohorilyi descobriram que seu mapa estava ajudando outro grupo inesperado de usuários: soldados russos. O designer do mapa havia adicionado uma função que exibiria instruções de rendição se um usuário tentasse acessar de um endereço IP russo. Então, em outubro de 2022, em uma entrevista com um blogueiro ucraniano popular, um prisioneiro de guerra russo testemunhou que havia usado o mapa da Deep State para esse exato propósito.
O sucesso do mapa da Deep State atraiu mais usuários para seu canal original do Telegram, que agora tem mais de 700.000 assinantes. Ele publica seus próprios relatórios originais da guerra, todos disponíveis por meio de um aplicativo gratuito, para o qual outras organizações de mídia ucranianas estabelecidas às vezes fazem referência. Mas o mapa permanece o produto mais popular, utilizado por ucranianos em casa e no exterior para rastrear a linha de frente que, no momento da escrita, avança em direção ao escritório deles em Kiev todos os dias.
Tanto Mykula quanto Pohorilyi abordam seu trabalho com uma dedicação rígida que contradiz sua juventude e inexperiência. “Não queremos decepcionar nosso público porque nossos projetos se tornaram críticos para os ucranianos”, diz Mykula. “Se nos comparar com outros mapas, verá que os ucranianos não vão checar eles. Eles vêm até nós.”