Dados genéticos de um grupo de aves da Caatinga conhecidas como choca-do-nordeste indicam que alterações no curso do rio São Francisco e oscilações climáticas ao longo de um milhão de anos causaram a divisão do grupo em duas espécies distintas. Uma delas foi descrita pela primeira vez em um artigo fruto da parceria entre o Instituto Tecnológico Vale (ITV), o Museu Paraense Emílio Goeldi e as universidades federais do Pará (UFPA) e do Rio Grande do Norte (UFRN).
A nova espécie, nomeada Sakesphoroides niedeguidonae, anteriormente considerada parte da espécie Sakesphoroides cristatus, apresentou diferenças genéticas, de plumagem e canto em relação ao outro grupo.
Os pesquisadores analisaram características da plumagem, formas e medidas corporais de 1079 aves, incluindo exemplares preservados em museus e fotografias digitais. Além disso, estudaram gravações sonoras, amostras de material genético e registros de ocorrência. Com base nessas informações, estimaram a história genética do grupo e as relações de parentesco entre as linhagens, bem como o tamanho populacional e os nichos climáticos ocupados pela espécie ao longo do tempo.
Dois padrões distintos de canto e diferenças na plumagem das fêmeas foram identificados, corroborados por dados genéticos que evidenciaram a presença de dois grupos diferentes, com 1,8% de diferença no material genético. Esse valor é significativo e aponta para a existência de duas espécies distintas.
Os resultados destacam a diversidade da Caatinga e a importância de métodos moleculares nos estudos para identificação de novas espécies. O estudo pode contribuir para estratégias de proteção das aves e do ecossistema, além de abrir caminho para futuras pesquisas ecológicas e populacionais.
Os pesquisadores planejam continuar investigando padrões de diversificação em outras espécies da região, com o objetivo de compreender melhor a relação entre espécies irmãs e o impacto das mudanças climáticas e do desmatamento nos tamanhos populacionais.
