Até o ano de 2100, as áreas de ocorrência de aproximadamente metade das espécies nativas de mandioca no Nordeste do Brasil podem ser reduzidas devido às mudanças climáticas. Um estudo publicado recentemente na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências” por pesquisadores das universidades federais Rural de Pernambuco (UFRPE) e do Recôncavo da Bahia (UFRB), e também da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), ressalta a importância de ações para conservação da biodiversidade diante dos impactos das mudanças climáticas.
Os cientistas coletaram dados sobre onze espécies de mandioca nativas do Nordeste e realizaram simulações considerando diferentes cenários climáticos. Com base em seis variáveis climáticas, como precipitação anual, chuvas nos meses mais secos e úmidos e temperatura média diária e anual, a equipe previu as áreas onde as espécies poderão sobreviver no futuro, levando em conta as necessidades das plantas e comparando com a situação atual.
Os resultados indicam que, em um cenário mais otimista, cinco espécies analisadas podem ter suas áreas de distribuição reduzidas até 2100. Em um cenário mais pessimista, com condições mais severas, essa redução pode atingir até seis espécies, o que representa 54% da amostra. Em ambos os cenários, quatro espécies podem sofrer uma redução total de suas áreas de ocorrência.
A autora do estudo, Karen Yuliana Suarez-Contento, destaca que a redução das áreas de distribuição das espécies de mandioca pode levar à extinção de algumas delas, afetando também a produção de um dos principais alimentos brasileiros: a mandioca cultivada. Suarez-Contento ressalta a importância da diversidade genética das espécies silvestres para o futuro da mandioca cultivada, pois fornecem características relevantes, como resistência a doenças e adaptação a diferentes ambientes.
As mudanças climáticas podem impactar a distribuição de outros alimentos, como milho, arroz e feijão, que também dependem da diversidade genética de suas espécies silvestres para se adaptarem às mudanças ambientais, pragas e doenças. Por isso, a conservação dessas espécies e de seus habitats é essencial para garantir a produção contínua desses alimentos.
Estratégias como a criação de áreas protegidas, a implementação de corredores ecológicos e a restauração de áreas degradadas são fundamentais para melhorar a situação prevista para 2100. A educação ambiental e incentivo a práticas agrícolas sustentáveis também podem envolver as comunidades locais e contribuir para a proteção dos habitats.