Com o rápido processo de destruição do Cerrado e a falta de manejo adequado das áreas remanescentes desse bioma, extensas porções do território brasileiro estão se transformando em cerradão. Essa formação florestal é pobre em biodiversidade, na qual espécies típicas do Cerrado se misturam com espécies generalistas, adaptadas a outros tipos de vegetação.
Cientistas buscam compreender se o cerradão é capaz de preservar a biodiversidade do Cerrado, se ele tende a evoluir para um tipo de floresta mais biodiversa, semelhante à Mata Atlântica, ou se apresenta um cenário diferente. Um estudo de longo prazo focou nesse tema, investigando as mudanças ocorridas ao longo de 14 anos em 256 parcelas, totalizando uma área amostral de 10,24 hectares em um cerradão na Estação Ecológica de Assis, em São Paulo.
Esse estudo, publicado na revista “Forest Ecology and Management”, foi conduzido pela professora Giselda Durigan, do Instituto de Biologia da Unicamp, e faz parte do projeto de doutorado de Francisco Ferreira de Miranda Santos. A pesquisa mostrou que, em 14 anos, mais da metade das árvores iniciais morreram, enquanto cerca de 10 mil novas árvores nasceram e cresceram.
A análise revelou também mudanças na composição e na estrutura da vegetação, indicando que o cerradão não é capaz de preservar a flora do Cerrado. O ambiente sombreado do cerradão é hostil para espécies típicas do bioma, e a acúmulo de biomassa em solos arenosos e rasos, sem capacidade de reter umidade, torna a floresta mais vulnerável a eventos climáticos extremos, como secas prolongadas.
Diante dessas descobertas, os pesquisadores alertam para a necessidade de políticas públicas adequadas para a conservação e restauração da biodiversidade nesses ambientes de transição, sob o contexto desafiador das mudanças climáticas globais. O estudo, financiado pela FAPESP, contribui para ampliar o conhecimento sobre as dinâmicas e os impactos das mudanças na vegetação do cerradão, fornecendo informações importantes para a tomada de decisões nesse cenário.
