Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) investigou, pela primeira vez, a influência do ambiente alimentar nas escolhas dos residentes de favelas brasileiras. O estudo, divulgado recentemente na revista “Cadernos de Saúde Pública”, revelou as dificuldades enfrentadas pelos moradores em ter acesso a alimentos saudáveis. Entre os obstáculos apontados estão a falta de informações sobre uma alimentação adequada, as restrições financeiras e a escassez de estabelecimentos que disponibilizam alimentos saudáveis a preços acessíveis.
Os pesquisadores realizaram dois grupos de discussão online, com a participação de dez moradores de favelas de diferentes cidades do Brasil. A maioria dos participantes era do sexo feminino (80%), com idades entre 18 e 30 anos (60%) e representação racial diversificada. A maioria residia em favelas da região Sudeste do país (60%).
O estudo apontou que os moradores enfrentam grandes desafios em seu ambiente alimentar. A falta de acesso físico e financeiro a alimentos saudáveis, aliada à abundância e promoção intensa de produtos ultraprocessados, tornam difícil a adoção de uma dieta equilibrada e levam a escolhas alimentares confusas. Além disso, o deslocamento entre casa, trabalho ou escola diminui o tempo disponível para comprar e preparar alimentos, conforme destacado pelo Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde (GEPPAAS) da UFMG, coordenado pela professora Larissa Loures Mendes.
Para Luana Lara Rocha, pesquisadora da UFMG e autora do estudo, a maioria dos participantes ressaltou a importância de incluir diariamente verduras, legumes, frutas, carnes, arroz e feijão em sua alimentação. No entanto, alguns destacaram que os altos preços desses alimentos representam um obstáculo para sua inclusão regular. A pesquisadora planeja conduzir uma pesquisa de campo em Belo Horizonte para avaliar o acesso aos alimentos em favelas, a segurança alimentar e o estado nutricional das crianças dessas comunidades.
A condução de estudos específicos nessas áreas possibilita uma compreensão mais profunda das suas particularidades e contribui para o desenvolvimento de políticas públicas e programas que promovam a oferta de alimentos saudáveis a preços acessíveis, além de estratégias voltadas para o transporte e segurança, essenciais para o acesso adequado aos alimentos. Conforme apontado pela pesquisadora, a complexidade dos desafios urbanos enfrentados pelas favelas demanda soluções integradas e específicas.