Uma etapa crucial da pesquisa em química medicinal é identificar moléculas que interajam de maneira forte e inequívoca com proteínas-alvo, desencadeando reações celulares. A busca por uma molécula eficaz é apenas o início do processo de desenvolvimento de fármacos, como ressalta estudo recentemente divulgado na revista ChemBioChem. É essencial confirmar se a molécula é um enantiômero, ou seja, se existem outras versões espelhadas dela, tanto horizontal quanto verticalmente.
O artigo foi escrito por pesquisadores de várias universidades brasileiras. Para entender o estudo, é preciso relembrar conceitos básicos de biologia celular. As células possuem organelas, como os lisossomos, responsáveis por reciclar componentes celulares. Quando há resíduos no citoplasma, os lisossomos os envolvem e os digerem por autofagia. A ativação e desativação de proteínas na membrana dos lisossomos são fundamentais nesse processo. Falhas nessas proteínas podem causar doenças graves.
A pesquisa focou em encontrar um composto capaz de interagir com a proteína TRPML1, presente na membrana do lisossomo. A identificação do enantiômero correto do composto otimiza a busca do melhor fármaco para estudar a proteína-alvo envolvida na reciclagem celular e em doenças associadas.
A separação dos enantiômeros foi fundamental para o estudo. A molécula ML-SA1 mostrou-se capaz de interagir com a proteína da membrana e ativá-la, mas apenas uma das versões da molécula teve efeito. Esse detalhe é crucial para evitar a competição das moléculas que ativam a proteína com outras que não têm efeito.
Enantiômeros, apesar de idênticos em estrutura, têm efeitos distintos no funcionamento celular. São conhecidos desde o século XIX e têm aplicações importantes na ciência e indústrias farmacêutica e alimentícia. O estudo recebeu apoio de agências de fomento à pesquisa e destacou a importância de identificar corretamente os enantiômeros para o desenvolvimento seguro de medicamentos.
