Craque no laboratório e no futebol: biomédica estuda ação de toxina do veneno da cascavel contra o câncer

Natural da zona leste de São Paulo, precisamente em Sapopemba, Camila se mudou para São Roque aos 4 anos de idade com sua família. Sua mãe, originária do Ceará, é dona de casa e não teve oportunidade de fazer um curso superior, mas sempre incentivou as filhas gêmeas a investirem nos estudos. As duas frequentaram escola pública e concluíram o Ensino Médio em 2006. Em 2008, Camila iniciou um curso técnico em informática em Sorocaba (SP), cidade vizinha.

O cotidiano de Camila mudou radicalmente a partir de 2009, quando ingressou no curso de Biomedicina na Faculdade Mario Schenberg, em Cotia (SP). Ela tinha que se deslocar diariamente entre as três cidades: de manhã para o curso de informática em Sorocaba; à tarde retornava para São Roque; e à noite ia para a faculdade em Cotia de ônibus, com viagens de aproximadamente uma hora e meia.

No primeiro ano da graduação, Camila conseguiu um estágio no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), onde realizou dois projetos de iniciação científica: um sobre uma estrutura intracelular durante o desenvolvimento embrionário do ouriço-do-mar e outro sobre um possível tratamento para câncer de pele. Mesmo morando em São Roque, ela passava as manhãs e as tardes na USP em São Paulo, seguia para a faculdade e depois retornava para casa. “Praticamente só ficava em casa para dormir; era uma rotina extremamente desgastante. Foram cerca de quatro anos nesse ritmo”, conta ela.

A virada aconteceu no último ano da faculdade, em 2013, quando uma antiga professora, Tatiane Lima, convidou Camila para uma iniciação científica no Instituto Butantan. Na época, ela também trabalhava na clínica de acupuntura de uma amiga.

“Contei para minha amiga sobre essa oportunidade e ela me perguntou o que meu coração queria. Eu respondi: meu coração quer a pesquisa”, lembra.

Durante a iniciação científica no Butantan, Camila teve seu primeiro contato com o estudo de venenos. Entre 2013 e 2016, ela se dedicou a um projeto que analisava o efeito anti-inflamatório da crotoxina sobre os neutrófilos e continuou sua pesquisa em um Programa de Aprimoramento Profissional da antiga Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP).

Após essa experiência, Camila se mudou para São Paulo e iniciou mestrado e doutorado na linha de pesquisa de Sandra Coccuzzo. Seu foco estava em estudar como a crotoxina afeta a função dos monócitos e macrófagos, células do sistema imune, e como isso poderia contribuir para combater o câncer.

Seus esforços no mestrado resultaram em um artigo recentemente publicado em uma revista científica renomada. O estudo avaliou o impacto da toxina em macrófagos de animais com tumor ascítico, uma forma de tumor líquido na região abdominal, e analisou as células tumorais e de defesa após o tratamento, revelando resultados promissores.

Camila atualmente trabalha como tecnologista de laboratório no Butantan, continuando suas pesquisas com a crotoxina. Além disso, auxilia alunos e pesquisadores nos experimentos e na manutenção da sala de cultura de células. Para ela, é gratificante poder contribuir com o desenvolvimento dos estudantes, inspirada pela mentoria que recebeu de Tatiane Lima desde o início no Instituto Butantan.

Sua jornada de dedicação incluiu dificuldades, desafios e conquistas, mas sempre houve apoio e incentivo de sua orientadora de mestrado e doutorado, Sandra Coccuzzo. Camila considera Sandra uma “mãe científica” e destaca a importância do apoio recebido no seu crescimento como cientista.

Para o futuro, Camila deseja seguir na pesquisa, produzindo novos conhecimentos e apoiando futuros cientistas em suas carreiras. Ela enfatiza a importância da colaboração científica e do estabelecimento de contatos para o avanço da ciência e para que os trabalhos desenvolvidos nos laboratórios alcancem a sociedade.