Passeando pela floresta durante o dia, dificilmente você conseguirá avistá-los: os bichos-pau são experts em camuflagem e se escondem entre os galhos com muita destreza. Pertencentes à ordem Phasmatodea, são conhecidos como os “bichos-preguiça” do mundo dos insetos, passando a maior parte do tempo pendurados em árvores. No entanto, existem muito mais peculiaridades sobre eles do que apenas a semelhança com gravetos – que, aliás, não é comum a todas as espécies.
“Nem todos os bichos-pau parecem um pau. Embora muitos imitem galhos, existem aqueles que imitam folhas, por exemplo”, explica o biólogo e monitor do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan, Bruno Schneider. “Do mesmo modo, nem todo inseto que se assemelha a um graveto é um bicho-pau: há os falsos bichos-pau, como o gafanhoto Cephalocoema sp”, complementa.
Caracterizados por corpos e pernas longas, os bichos-pau fazem parte de um grupo bastante populoso, com estimativas de dezenas de milhares de espécies. O tamanho do inseto pode variar de 15 cm a cerca de 60 cm, sendo que as fêmeas geralmente são mais robustas do que os machos para conseguirem transportar os ovos. Na espécie brasileira Cladomorphus phyllinus, por exemplo, os machos são finos e leves, possuindo asas com o objetivo de se dispersar e acasalar com várias fêmeas.
No entanto, o macho nem sempre é essencial para a reprodução. O bicho-pau apresenta uma característica chamada partenogênese, na qual o óvulo da fêmea se desenvolve sem fecundação, formando um indivíduo haploide (com apenas um conjunto cromossômico – no caso, o feminino). Esse fenômeno também é observado em escorpiões-amarelos. Seja por reprodução sexual ou assexuada, a fêmea adulta coloca de um a dois ovos por dia, todos os dias, até o final da vida.
Além da reprodução, o corpo avantajado da fêmea também serve para uma prática peculiar: arremessar seus ovos. Conforme Bruno Schneider, essa é uma ação bem comum entre os bichos-pau e que contribui para a proliferação da espécie. O inseto posiciona o ovo na ponta do abdômen, que é bem alongado, e o lança para longe.
Os ovos também possuem estratégias de sobrevivência: se estiverem em um ambiente frio e seco, podem entrar em estado de dormência por anos e eclodir em um momento mais adequado. “Para se desenvolver, os filhotes necessitam de umidade e calor. Em condições ideais, levam algumas semanas para nascer. Os machos vivem cerca de um ano, enquanto as fêmeas podem viver por quase dois anos”, destaca o biólogo.
Apesar de ainda ser pouco estudado pela ciência por ser inofensivo, não possuir veneno e não representar perigo à saúde humana, o bicho-pau desempenha funções ecológicas importantes, assim como qualquer outro inseto. Sua alimentação, baseada unicamente em plantas, contribui para o equilíbrio ambiental e para a biodiversidade. Ele também serve de alimento para diversos animais, como pássaros, lagartos, sapos e alguns mamíferos, como macacos. Além disso, sua sensibilidade o torna um bom indicador da saúde do ambiente.
Os recursos que o bicho-pau utiliza para sobreviver vão além da camuflagem. Algumas espécies apresentam espinhos no corpo para serem menos atrativas aos predadores; outras utilizam o aposmatismo, uma coloração chamativa que geralmente indica toxicidade na natureza.
Por exemplo, o Peruphasma schultei, bicho-pau nativo do Peru, é preto com asas vermelhas. Sua aparência funciona como um alerta: ele libera um líquido irritante com odor forte quando se sente ameaçado. A Megacrania batesii também é uma espécie colorida muito conhecida, chamada de bicho-pau hortelã pelo seu tom verde marcante. Sua defesa consiste em liberar uma substância irritante para os predadores. Outro comportamento comum dos bichos-pau é esticar as duas pernas dianteiras para a frente e juntá-las, escondendo as antenas no meio dos membros. Dessa forma, o inseto reduz as chances de ser identificado por predadores.
Diferentemente dos bichos-pau, que fazem parte de uma ordem específica com diversas espécies, não existe uma ordem de “bicho-folha”. “Existem espécies de bicho-pau, de borboletas e até de lagartas que se assemelham a folhas e, por isso, são popularmente chamadas de bicho-folha”, esclarece Bruno.
Os bichos-pau que imitam folhas pertencem à família Phylliidae, predominante na Austrália e no Sudeste Asiático. Eles possuem o corpo achatado e podem apresentar coloração verde, amarela ou marrom.