Borboleta amazônica originada do cruzamento entre duas espécies

Um grupo de pesquisadores de vários países descobriu que a borboleta Heliconius elevatus, da Amazônia, é uma espécie híbrida. O achado, publicado recentemente na revista Nature, confirma uma suspeita antiga sobre algumas espécies de borboletas terem surgido da mistura entre outras.
Essa borboleta é resultado do cruzamento entre outras duas espécies do mesmo gênero, H. pardalinus e H. melpomene. A hibridização aconteceu há aproximadamente 180 mil anos, de acordo com análises genéticas. As três espécies estão presentes em toda a extensão da floresta amazônica.
Normalmente, o cruzamento entre espécies evolutivamente próximas ocorre na natureza, mas raramente resulta em descendentes férteis que se mantêm por várias gerações. No entanto, Heliconius elevatus conseguiu preservar sua existência como espécie ao longo dos milênios. Mesmo assim, as borboletas atuais possuem uma contribuição genética muito desigual das duas espécies originais: 99% do material genético é idêntico ao de H. pardalinus, enquanto apenas 1% é proveniente de H. melpomene.
Essa pequena proporção de genes de H. melpomene tem um impacto significativo na aparência da borboleta. Os pesquisadores descobriram que esses genes são responsáveis por conferir o desenho e cores nas asas de H. elevatus, tornando-a semelhante o suficiente ao padrão da espécie parental para afastar aves predadoras.
Além das análises genéticas, o estudo levou em conta o comportamento, o formato do entorno das asas e a interação com as plantas das quais as lagartas se alimentam, para diferenciar as espécies. A hipótese da hibridização, agora comprovada pela genética, não é nova e remonta a observações feitas décadas atrás.
O estudo faz parte de um projeto maior que busca compreender diversos aspectos das borboletas do gênero Heliconius, incluindo distribuição genética e biogeográfica. Os dados foram coletados em uma expedição à Amazônia que durou três meses e continua gerando resultados e artigos sobre essas espécies.