Bianca DellaFancy Fala Ao Giz Brasil Sobre Papel Em “Renascer”, Mariah Carey E Mais

A arte reflete a vida? Com uma popularidade estrondosa na internet, contando com mais de 440 mil seguidores no Instagram, a drag queen Bianca DellaFancy, também conhecida como Felippe Souza, expandiu seu alcance para a televisão. Aos 34 anos, e com mais de uma década de experiência como drag, ela dá vida à personagem Janaína, a drag de Jorge, na novela “Renascer” da Globo. Ao lado das atrizes Gabriela Loran e Galba Gogoia, ela faz parte do grupo de amigas de Buba, interpretada por Gabriela Medeiros.

Carreira de Bianca

Bianca é a criadora do quadro “DellaMake”, que já contou com a presença da deputada Erika Hilton, Pabllo Vittar e Luísa Sonza em seu canal no YouTube. Iniciando sua carreira no entretenimento como DJ após deixar um emprego na área de publicidade em Santos (SP), Bianca alcançou reconhecimento com o podcast “Santíssima Trindade das Perucas” e atualmente apresenta o programa “Quanto Vale Essa História?”. Além disso, já estampou a capa da Vogue e desfilou na SPFW.

Atualmente, Bianca estreia um novo programa no canal da DiaTV, intitulado “Dando Duro”, ao lado de Rafa Chalub. Em entrevista ao Giz Brasil, Bianca DellaFancy abordou temas como representatividade, sua personagem Janaína, ídolos e o novo projeto.

Confira a entrevista de Bianca DellaFancy

Na trama de “Renascer”, você contracena com colegas LGBTQIA+, como Gabriela Medeiros. Você espera que a comunidade tenha mais destaque nas novelas e produções futuras? O que acredita ser necessário para que isso aconteça?

Eu acredito que o que deve ser feito é justamente o que já está em curso. Devemos ter a oportunidade de escrever nossa própria história e narrativa. Por muito tempo, isso foi tirado das pessoas LGBTQIA+. Em muitas produções, vimos pessoas cis interpretando personagens trans. Isso no cinema, em séries… Também vimos pessoas heterossexuais interpretando personagens LGBTQIA+. O que estamos testemunhando é apenas o começo. Acho que é o ponto de partida para um futuro promissor.

Nós sempre estivemos aqui. Sempre trabalhamos duro e fomos muito capacitados, mas faltava a oportunidade. Ainda falta, mas como mencionei, é um começo. Por isso, acredito que precisamos incentivar ainda mais a presença de pessoas LGBTs nesses espaços, pois não estamos invadindo, apenas ocupando um lugar que é nosso por direito. Portanto, espero que tenhamos um papel central em produções futuras, seja em novelas, cinema ou séries, porque temos total capacidade de desempenhar nossos papéis, como sempre fizemos na vida real.

Reflexo da vida nas telas

Assim como você, a personagem Janaína é drag queen, representando um homem gay e negro, o Jorge. Suas experiências como Felippe e Bianca contribuíram para interpretá-la?

Minhas experiências como Felippe e Bianca foram fundamentais. Foi um processo de resgate. Ao me preparar para interpretar Janaína, resgatei muito do Felippe e Bianca do início da carreira. Janaína tem muitos sonhos, e embora eu também tenha os meus, estou mais realista, já que sou mais madura que Jorge e Janaína. Eles estão no início, e é inspirador ver alguém tão sonhador no início da carreira, buscando alcançar voos mais altos. Minhas vivências foram muito úteis. Foi necessário desconectar um pouco para não me interpretar na novela, mas foi importante resgatar essa parte de mim, algo mais sonhador e menos maduro, no início.

Sinceridade

A personagem Janaína, conhecida por sua franqueza, se parece com você na vida real?

Já fui bastante franca sem pensar muito antes de falar. Hoje, após os 30 anos e com anos de carreira, percebi a importância de refletir antes de falar, de considerar como minhas palavras podem afetar as pessoas positiva ou negativamente. Vivemos num mundo cheio de intenções, e é crucial que tenhamos boas intenções, mesmo em nossas palavras. Janaína, por sua vez, é mais direta, fala sem hesitação e depois reflete. Essa é uma diferença significativa entre nós hoje em dia. No entanto, já fui assim, então minhas vivências foram relevantes.

Janaína se assemelha à Bianca, Jorge à Felippe, mas em outro momento da vida. Em uma fase em que talvez estivesse morando em Santos, no início, sem imaginar tudo o que aconteceria, o que acabou acontecendo.

Ídolos de Bianca

Na novela, você homenageou Rita Lee em uma performance e esteve no show de Madonna no Rio de Janeiro. Quem são seus ídolos na vida real?

Rita Lee é uma delas. Fiquei muito feliz em ter a oportunidade de participar dessa cena. Me senti extremamente orgulhosa ao assistir. Não tenho palavras para expressar o tamanho do meu orgulho.

Naomi Campbell é outra pessoa que admiro. Além das atividades que desenvolvo, trabalho na moda. Já desfilei na São Paulo Fashion Week, estive na capa da Vogue… Naomi Campbell sempre foi uma inspiração para mim, pois, além de tudo, é uma das primeiras modelos negras a atingir um patamar tão alto em uma época em que modelos negras eram desvalorizadas. Mesmo enfrentando dificuldades nos anos 80 e 90, ela conseguiu se destacar.

Minha mãe também é uma inspiração. Uma mulher guerreira, que sempre sonhou em construir a família que tem. Ela mudou sua vida ao começar a se cuidar e se amar mais. Essa transformação também trago para mim, como uma inspiração de autocuidado e amor próprio.

Mariah Carey também é uma referência. Ela me ajudou, sem saber, a me descobrir e entender minha sexualidade. Ver uma mulher tão livre, dona de si, lidando com altos e baixos na vida pessoal e ainda assim batalhando me ensinou muito. Mariah me ajudou a compreender que desejava a liberdade, o poder, o glamour e o talento que ela possui. São pessoas que admiro e que carrego comigo.

Novo projeto

Além de seu papel na Globo, você está lançando um programa na DiaTV com Rafa Chalub. Pode nos adiantar algo sobre esse projeto?

O programa se chamará “Dando Duro” e será uma incursão no mundo dos ‘machões’, com muita comédia. A proposta é entreter o público, fazendo com que as pessoas se divirtam. Quero que as pessoas se divirtam muito. Elas podem assistir todas as terças-feiras, às 20h, na DiaTV, e se divertir conosco. Um momento leve, porém que também provoque reflexões. É um programa que quebra paradigmas ao adentrar em um mundo que é tido como tão diferente do nosso.

Já vivenciamos situações complicadas em nossas vidas pessoais nesses ambientes, como no futebol, barbearias… Agora, retornamos mais maduros, donos de nós mesmos. Não somos mais crianças ou adolescentes deslocados, e sim, adultos que revisitam esses espaços com outra perspectiva.

O programa é divertido, mas também levanta questões importantes sobre os espaços que ocupamos. Existe de fato uma demarcação de lugares? Deveria haver? Como podemos ocupar outros espaços que desejamos, independentemente de serem considerados do universo ‘machão’ ou não, sem nos sentirmos coagidos? O programa brinca com estereótipos, tanto aqueles que os LGBTs têm quanto aqueles que a sociedade tem de nós. Recomendo assistir, sem modéstia.

Por fim, Bianca é uma artista que vem conquistando seu espaço com talento, autenticidade e engajamento social, representando a comunidade LGBTQIA+ e promovendo a diversidade e inclusão em todos os seus projetos. Sua trajetória é marcada por superação, coragem e inspiração para muitos.