O trabalho foi realizado durante o curso de Especialização em Saúde no Laboratório de Virologia do Butantan, sob a orientação da pesquisadora Viviane Botosso e da assistente técnica de pesquisa Josana Kapronezai.
Ter a oportunidade de apresentar seu projeto para todos os pesquisadores do Instituto foi motivo de grande alegria para a biomédica, além de muita ansiedade. Mesmo acostumada a se apresentar em espetáculos, e ter dançado até em rede nacional no Criança Esperança quando criança, desta vez era diferente. Era o fruto de sua dedicação à pesquisa, uma paixão que surgiu há poucos anos. Apesar do nervosismo, o sentimento de união e colaboração foi o mesmo que experimentou no camarim com os colegas artistas.
“Foi incrível ver tantas pessoas interessadas, fazendo perguntas, mandando mensagens… Eu pude perceber quantos amigos eu tinha feito aqui no Butantan e o apoio que tenho”, disse.
Como toda conquista, essa também trouxe grandes emoções. Gabriella relatou que, devido a alguns problemas técnicos, apenas conseguiu ter o resultado final do sequenciamento do vírus na véspera da apresentação – uma verdadeira corrida contra o tempo. Foi um alívio quando recebeu a ligação de Josana informando que tudo tinha dado certo. Foi ela também quem comunicou que o projeto era finalista na RCA.
“Lembro que estava em casa e Josana me ligou. Eu a considero uma grande amiga e a alegria dela me contagiou – fiquei mais feliz por vê-la tão contente com o nosso projeto do que por mim”, relatou.
Após concluir a especialização no início de 2024, Gabriella iniciou outro projeto no Butantan: conquistou uma Bolsa de Treinamento Técnico da FAPESP, por meio do CeRDI. Orientada pelas pesquisadoras Ana Maria Moro e Lilian Tsuruta, do Laboratório de Biofármacos, a aluna tem colaborado na construção de uma biblioteca de anticorpos monoclonais humanos e se prepara para prestar a prova do mestrado no final do ano.
Um anticorpo monoclonal é proveniente de uma única célula B, clonada e imortalizada para produzir sempre os mesmos anticorpos. Cada anticorpo reconhece antígenos específicos, como vírus, bactérias e toxinas. A tecnologia tem sido estudada pela ciência e aplicada como terapia inovadora para diferentes doenças, entre elas câncer, lúpus e artrite reumatoide.
“A biblioteca é composta por genes de anticorpos obtidos do sangue de doadores. Nós amplificamos os genes de interesse, clonamos em um vetor e usamos bactérias para multiplicá-los. Depois, extraímos, purificamos e vamos criando assim uma biblioteca diversa”, explicou Gabriella. A diversidade de anticorpos provenientes de diferentes doadores permite o reconhecimento de uma infinidade de antígenos.
A intenção da equipe é utilizar a biblioteca para fazer uma triagem, com uma técnica denominada phage display. Nessa técnica, fragmentos dos anticorpos são ancorados na superfície de fagos, vírus que infectam bactérias, e são multiplicados e “apresentados” a antígenos de interesse em uma placa, a fim de identificar anticorpos que reconheçam e combatam esses antígenos, como o vírus da influenza.
Para a jovem cientista, a transição de Campinas para São Paulo, a adaptação à rotina de laboratório, o aprendizado de novas técnicas e experimentos complexos e a circulação por uma cidade grande, até então pouco conhecida, foram desafiadores no início. No entanto, a receptividade dos colegas do Butantan foi fundamental para superar os medos e abraçar os desafios.
“No início, você pensa ‘nunca vou conseguir fazer isso’. Mas à medida que você aprende, troca experiências, descobre que é capaz. Essa é a parte mais legal”, ressaltou.
A curiosidade e o desejo de aprender sempre estiveram presentes na vida de Gabriella, assim como a arte – seu pai é baterista e tem uma escola de música em Campinas. Desde criança, além das aulas de teatro, dança e piano, seu passatempo favorito era ler almanaques de ciência e livros de ficção, biologia e astronomia. Antes de cursar Biomedicina na UNIP, onde se formou em 2022, ela chegou a iniciar uma graduação em Enfermagem, mas foi a ciência que realmente a atraiu.
Durante a produção do Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade, o interesse pela pesquisa se intensificou. Lidando com as dificuldades de estudar durante uma pandemia, Gabriella decidiu incluir o tema em seu projeto e investigar o impacto da Covid-19 no sistema nervoso central, o que resultou na publicação de dois artigos em revistas científicas nacionais. Para desenvolver o trabalho, analisou dados do SUS de 18 mil pacientes.
“O TCC aumentou ainda mais meu interesse pela pesquisa. Atualmente, no Butantan, gosto muito de estar na bancada, realizando experimentos, pesquisando e lendo artigos. Sempre temos palestras, eventos e oportunidades de conhecer as pesquisas dos outros grupos e trocar conhecimento”, disse.
Suas principais inspirações no Butantan são suas orientadoras, que a ensinaram tudo o que sabe sobre laboratório. “Elas sempre estão dispostas a incentivar os alunos a aprender, a pensar, além de criarem um ambiente muito inspirador e acolhedor nos laboratórios”, destacou. Gabriella também enfatizou a colaboração de seu colega Giovanni Andreu, do Laboratório de Virologia, que a apoiou durante a RCA.
Fora do Butantan, Gabriella dedica seu tempo aos estudos, à leitura e à família, que se reúne todos os domingos para jogar baralho. Mais velha de três irmãos, mora com os avós, que são pessoas muito presentes em sua vida. Seu avô construiu uma empresa de baterias reconhecida internacionalmente no mundo da música, enquanto a avó foi professora e poeta. Ela cuidou de seus filhos, ajudou a criar Gabriella e, apesar das adversidades enfrentadas durante a pandemia, continua a inspirar a neta com sua alegria e sua poesia.
Inspirada pela força e resiliência de seus avós, Gabriella encara diariamente os desafios e tem grandes expectativas para os próximos passos de sua carreira acadêmica. No projeto de mestrado em andamento, seu objetivo é estudar anticorpos monoclonais contra doenças infecciosas.
“A pesquisa tem um grande significado para mim – faz parte da minha vida. Desejo me sentir realizada no ambiente onde estiver, e continuar cercada por pessoas que me façam sentir bem, como sou hoje no Butantan”, concluiu.