“Deve-se antecipar todos os possíveis fracassos e sobreviver a qualquer um deles”, diz Cuffe. Da sala de controle, os engenheiros devem ser capazes de dizer quais partes da rede estão definitivamente funcionando para não ficarem às cegas – mas ainda levará tempo.
“Mesmo com uma rede totalmente saudável, fazer aquele reinício a frio pode levar 12 ou 16 horas. Você tem que fazer de forma sequencial, e leva muito tempo. Tenho certeza de que há engenheiros em vans se movendo por todos os lados tentando fazer tudo isso acontecer,” diz Cuffe. “É como montar algum móvel do Ikea incrivelmente complicado.”
O maior problema é que, sem uma causa estabelecida e óbvia para o apagão em primeiro lugar, será difícil para os engenheiros saberem onde restabelecer a energia primeiro sem desencadear outra falha.
“O desafio é combinar constantemente oferta e demanda”, diz Ketan Joshi, um consultor independente de clima e energia. “Você precisa realizar esse ato de equilíbrio, não é só conectar tudo de volta lá.” Joshi descreve isso como um apagão “invertido”.
“Quando uma árvore cai em uma linha de energia, você acaba desligando um pequeno pedaço da rede. É um problema. Cem casas ficam sem energia, uma equipe vem e eles reenergizam e reconectam a seção que foi desconectada”, explica Joshi. Isso é a mesma coisa, mas em uma escala enorme. “Quando você tem um blackout como o que estamos vendo na Espanha e em Portugal, o desafio de mapear a oferta e demanda se torna ridiculamente complicado. Toda vez que você conecta um novo pedaço de residências, você tem que realizar o mesmo ato de equilíbrio. Os geradores que estão produzindo eletricidade têm que corresponder à nova demanda que surgiu subitamente na rede.”
A REN (Rede Elétrica Nacional), o principal operador de energia em Portugal, deu uma declaração à BBC dizendo que o apagão foi causado por “variações extremas de temperatura no interior da Espanha. Houve oscilações anômalas nas linhas de alta tensão muito elevada (400 kV), um fenômeno conhecido como ‘vibração atmosférica induzida'”. A Espanha ainda não respondeu a essa alegação.
“Fiquei coçando a cabeça com isso”, diz Cuffe. Ambas as redes do país podem ser operadas por operadores nacionais, explica ele, mas estão atreladas juntas como uma rede sincronizada, o que significa que se um lado falhar o outro também falhará – tornando não totalmente inesperado que um culpe o outro.
Quando se trata de reerguer a rede, ambos os operadores estão por conta própria. A Península Ibérica é uma “ilha energética”, diz Jan Rosenow, vice-presidente de estratégia global no Regulatory Assistance Project, uma ONG que promove inovação política e liderança de pensamento na comunidade energética. A capacidade de interconexão coletiva da Espanha e Portugal com o restante da Europa – isto é, quanto de sua energia podem retirar ou enviar para o continente mais amplo – é de cerca de 6 por cento, muito abaixo da meta de 2030 de 15 por cento estabelecida pela União Europeia.”