Uma outra omissão surpreendente ocorreu durante o testemunho de Mark Negley, um engenheiro da Boeing. Negley tinha realizado um estudo preliminar de design para o Titan e ajudado a OceanGate com testes de equipamentos e conselhos por quase uma década. Ele testemunhou sobre os desafios de construir estruturas de fibra de carbono.
O painel não questionou Negley sobre um e-mail que ele enviou a Rush em 2018, compartilhando uma análise baseada em informações fornecidas por Rush. “Achamos que você está sob alto risco de uma falha significativa em ou antes de atingir 4.000 metros”, escreveu ele. O e-mail incluía um gráfico mostrando uma caveira e ossos cruzados por volta dessa profundidade.
Esta semana também viu testemunhos técnicos de outros especialistas sobre o design e classificação de submersíveis. Todos estavam céticos ou criticavam abertamente a decisão da OceanGate de operar o Titan usando uma novidade casco de fibra de carbono com pouco teste, e confiando em um sistema de monitoramento acústico não comprovado para informações em tempo real sobre a integridade do casco.
“A delaminação e colapso instantâneos podem ocorrer em menos de um milissegundo”, testemunhou Roy Thomas da American Bureau of Shipping. “O monitoramento em tempo real não pode capturar isso.”
Donald Kramer, engenheiro de materiais na National Transportation Safety Board (NTSB), testemunhou sobre defeitos de fabricação no casco compósito. Ele descreveu os destroços do Titan descascando em camadas de fibra de carbono que coincidiam com sua construção em múltiplos estágios, mas não ofereceu uma opinião sobre o que poderia ter causado a implosão.
Nem os fabricantes do casco nem o diretor de engenharia da OceanGate, na época da sua construção, foram convocados para depor.
O presidente do MBI, Jason Neubauer, disse em coletiva de imprensa após as audiências: “Não precisamos obter depoimento de cada testemunha. Desde que obtemos informações factuais e dados da empresa, através de investigação forense e de outras testemunhas, é possível que não entrevistemos todas as testemunhas identificadas.”
Kramer observou que os dados de 2022, quando foi ouvido um barulho explosivo após o Titan emergir de um mergulho no Titanic, mostraram uma preocupante mudança na tensão no casco. Phil Brooks, então diretor de engenharia da OceanGate, testemunhou que provavelmente não estava qualificado para analisar esses dados, e que Rush autorizara pessoalmente o submersível para seus mergulhos finais.
Nas últimas duas semanas, várias testemunhas testemunharam o papel principal de Rush em impulsionar negócios, engenharia e decisões operacionais, assim como sua personalidade abrasiva e temperamento. Matthew McCoy, técnico da OceanGate em 2017 e ex-oficial da Guarda Costeira, testemunhou hoje sobre uma conversa que teve com Rush sobre registrar e inspecionar o Titan.
McCoy lembrou que Rush disse que se a Guarda Costeira se tornasse um problema, ele “compraria um deputado e o problema desapareceria”. McCoy entregou sua demissão no dia seguinte.
Com a conclusão das audiências públicas, o MBI da Guarda Costeira agora começará a preparar seu relatório final. Isso poderia incluir uma causa definitiva do acidente fatal, encaminhamentos para investigações criminais e recomendações para futuras políticas e regulamentos.
O casco e a janela de visualização do Titan foram destaque nos testemunhos de especialistas sobre possíveis causas físicas da implosão. Independentemente de qual componente tenha falhado, as críticas foram direcionadas a todos, desde designers e fabricantes até a equipe operacional da OceanGate e as tomadas de decisão executivas. Isso pode dificultar a identificação de uma única causa ou de indivíduos culpados, com exceção de Stockton Rush.
