Na semana após Nour receber aquela mensagem, outras pessoas no Líbano, segundo relatos, começaram a receber mensagens via chamadas automáticas em seus telefones fixos ou por texto. “Se você estiver em um prédio com armas do Hezbollah, afaste-se da aldeia até aviso posterior”, dizia a mensagem, ecoando chamadas similares recebidas em Gaza antes de um ataque aéreo. Entre 8h e 8h30 da manhã de segunda-feira, 80.000 pessoas em todo Líbano receberam essas mensagens, de acordo com um porta-voz da rede de telecomunicações libanesa Ogero, que preferiu não ser identificado. Uma dessas chamadas foi atendida no escritório do ministro das comunicações do Líbano, Ziad Makary, que atribuiu a mensagem à guerra psicológica dos israelenses.
Como exatamente essas chamadas foram feitas não está claro. As sugestões na mídia de que os sistemas de telecomunicações do Líbano foram hackeados foram rejeitadas pela empresa, que normalmente bloqueia números de telefone vindos de Israel.
“O ID do chamador de origem foi mascarado com um número local ou internacional. Não é um hack”, disse o porta-voz da Ogero à WIRED. “Não houve violação da rede oficial de comunicações pelos israelenses”, reiterou o escritório do ministro das telecomunicações do Líbano, Johnny Corm, no X.
Ao invés disso, as chamadas foram geradas por “países amigos que não temos em nossa lista de bloqueio”, afirmou a Ogero, sem especificar quais. As Forças de Defesa de Israel se recusaram a comentar as mensagens ou como foram enviadas.
Partes em guerra têm a obrigação de dar aviso prévio aos civis de um ataque, diz Lama Fakih, diretora do Oriente Médio e Norte da África da Human Rights Watch. “Para que os avisos sejam eficazes sob a lei, eles devem ser específicos”, diz ela. No entanto, essas mensagens não mencionaram quais aldeias exatas seriam alvo. “E isso resultou em pânico entre a população civil.” Até a noite de segunda-feira, as estradas estavam congestionadas com milhares de carros fugindo para o Norte. “O Hezbollah é uma organização secreta, então as pessoas próximas a [o grupo] não sabem onde estão as armas”, afirma Wadih Al-Asmar, co-fundador do Centro Libanês de Direitos Humanos.
Do outro lado da fronteira em Israel, os telefones também estavam vibrando com mensagens sombrias. Na noite da última quarta-feira, Aya Yadlin ainda estava acordada no centro de Israel, trocando mensagens com uma amiga, quando uma nova mensagem piscou em seu telefone depois da meia-noite. Em sua tela havia um SMS de “OREFAlert”. Quando ela abriu a mensagem, o SMS dizia: “Alerta de emergência. Você deve entrar imediatamente no abrigo”. Depois havia um link.
Instantaneamente cética, Yadlin não clicou. Como professora de cultura digital na Universidade Bar-Ilan, ela sabia que as autoridades não enviavam alertas por mensagem de texto, e havia um erro de digitação em hebraico. Após receber outra mensagem – “Hackers têm acesso total aos seus dispositivos, volte às configurações de fábrica” – ela bloqueou o número. Se ela não tivesse bloqueado, provavelmente teria recebido mais duas mensagens, como sua irmã. A terceira mensagem dizia em inglês: “Se você quer viver, saia. Se quer ficar, vá para o inferno”.
Essas mensagens provavelmente foram uma resposta à escalada entre Israel e o Hezbollah, de acordo com um especialista em cibersegurança em Israel, que prefere não ser identificado devido à sensibilidade do incidente.