Um estudo realizado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), ligada ao Ministério da Educação (MEC), pode promover uma mudança significativa na vida das mães que vivem com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Até hoje, essas mulheres são aconselhadas a não amamentar seus filhos, por medo de transmitir o vírus para as crianças. No entanto, com os avanços do tratamento utilizando a terapia antirretroviral (Tarv), essa realidade pode ser modificada.
Um grupo de pesquisadores da Unirio, liderado por Rafael Braga e Regina Rocco, publicou os primeiros resultados de uma pesquisa na plataforma MedRxiv. O estudo analisou a carga viral no colostro de puérperas vivendo com HIV em tratamento com Tarv. Em 13 amostras de colostro, o vírus foi indetectável, enquanto duas amostras apresentaram falha na extração e apenas uma amostra teve resultado positivo, mas a participante havia interrompido o tratamento.
As análises foram realizadas no Laboratório de Pesquisa Multiusuário 04 (LPM-04) do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (Hugg), com autorização do Ministério da Saúde. O estudo pode fornecer novas perspectivas sobre a transmissão vertical do HIV durante a amamentação, levando à reavaliação da proibição do aleitamento materno para puérperas nessa condição.
Os pesquisadores ressaltam a importância de apoiar essas mulheres, que enfrentam dificuldades sociais e financeiras. A falta de leite humano disponível no Banco de Leite e a exclusão das crianças de mães com HIV são questões abordadas no estudo.
O estudo também destaca a mudança recente nas diretrizes da Academia Americana de Pediatria, que permite a amamentação por mulheres com HIV e carga viral indetectável. A possibilidade de transmissão do vírus é menor que 1% nesses casos, de acordo com a recomendação americana.
O Ministério da Saúde do Brasil manifestou interesse em ampliar a pesquisa da Unirio para um estudo multicêntrico, envolvendo diversas instituições federais. Para isso, é necessário concluir o estudo em andamento na Unirio. A expectativa é finalizar o estudo até o fim do primeiro semestre do próximo ano.