Especialista No Mosquito Da Dengue, Ela Saiu De Casa Aos 15 Anos Para Realizar O Sonho De Se Tornar Cientista

Permanecer distante da família não foi fácil, mas desistir não estava nos planos. Seu pai afirmava que, se era aquilo que ela almejava, valeria a pena. “Eu saí de casa muito jovem e tive que aprender a lidar com a saudade, a me virar sozinha em uma cidade grande… Foi muito difícil. Mas sempre quis fazer uma faculdade pública e sabia que, se voltasse, não teria todas as ferramentas necessárias para alcançar esse objetivo”, relata.

Rafaella fez o Ensino Médio em Goiânia e se formou em Biologia na Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, onde obteve uma bolsa de iniciação científica na parasitologia para estudar o Trypanosoma cruzi, protozoário que causa a doença de Chagas. No final da graduação, ao buscar oportunidades de mestrado, deparou-se com o Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados da Universidade de São Paulo (USP), o qual a cativou.

Foi nesse espaço que concluiu o mestrado e doutorado, entre 2010 e 2019. Sob a orientação da pesquisadora Margareth Capurro, explorou os efeitos da infecção por diferentes agentes patogênicos na capacidade reprodutiva das fêmeas do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. As descobertas apontaram que uma fêmea infectada produz aproximadamente 15% menos ovos do que uma saudável. “O que me chamou atenção é que os mosquitos têm uma importância muito grande na saúde do nosso país. Encontrei nesse caminho uma forma de retribuir todo o meu estudo, que foi público, para ajudar a população.”

Ao longo de sua jornada, a bióloga realizou estudos sobre infecções e coletas de mosquitos durante epidemias significativas no Brasil, como a de Zika, que gerou casos de microcefalia em recém-nascidos, e a de febre amarela, que resultou em casos e mortes. Atualmente, no Butantan, contribui para um projeto de pesquisa sobre a dengue, uma das maiores epidemias da história do país.

Depois de defender o doutorado em 2019 e dar à luz seu filho Vitor, Rafaella sentiu a falta da pesquisa e decidiu buscar oportunidades de pós-doutorado. Com dedicação e enfrentando desafios, conseguiu uma vaga na USP para estudar arbovírus. Posteriormente, com a chegada da pandemia de Covid-19, passou a colaborar no combate ao vírus, mas continuou sentindo a necessidade de trabalhar com os vetores das doenças.

Com determinação, empenho e o apoio de seus supervisores, Rafaella conseguiu uma oportunidade no Butantan para desenvolver um projeto voltado para os mosquitos Aedes aegypti infectados por diferentes vírus, visando contribuir para o combate às arboviroses no Brasil.

Nascida em Apucarana, no Paraná, e criada em Barreiras, Rafaella se vê como uma mulher forte e corajosa, ansiosa por continuar contribuindo cientificamente para a sociedade. Além de atuar nos laboratórios, ela busca conscientizar o público sobre doenças transmitidas por mosquitos, tanto por meio de suas redes sociais quanto ministrando cursos.

Para Rafaella, sua realização está em superar os desafios e em sua dedicação à ciência, visando a um futuro melhor para seu filho e para a sociedade como um todo.