OMS Declara Mpox Na África Emergência Internacional E Surto Já Lembra Início Do HIV.

Declarada emergência de saúde global pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a propagação da Mpox (ou varíola dos macacos) na África já está sendo comparada ao início da epidemia de HIV. Muitos especialistas, como Trudie Lang, professora de pesquisa em saúde global na Universidade de Oxford, afirmam que a doença lembra os primeiros dias da disseminação do vírus da imunodeficiência humana.

A classificação de emergência de interesse internacional é a mesma utilizada em surtos anteriores, como os de Ebola, Covid-19 e Mpox na Europa, em 2022. O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, declarou que a situação justifica o mais alto nível de alarme sob a lei internacional de saúde.

Desde janeiro do ano retrasado até o início de agosto, foram registrados 38.465 casos de Mpox e 1.456 mortes no continente africano. Apenas na República Democrática do Congo, neste ano, foram mais de 14 mil casos e 524 mortes. Uma nova variante do vírus surgiu no país e está se espalhando para nações vizinhas, principalmente entre crianças.

Diante do surto, médicos especialistas pedem uma aceleração no acesso a testes, vacinas e medicamentos terapêuticos nas áreas afetadas, além de campanhas para combater o estigma em torno do vírus e promover a busca por tratamento, conforme relatado pelo The Guardian.

A presidente da Africa Vaccine Delivery Alliance, Dra. Ayoade Alakija, informou que a maioria das vacinas e tratamentos já foram encomendados por países ricos, restando apenas um teste de diagnóstico disponível.

Até o momento, a OMS liberou US$ 1,5 milhão de seu fundo de contingência, solicitando a ajuda de doadores para financiar os US$ 15 milhões restantes. A União Africana também contribuiu com US$ 10,4 milhões para a agência Africa Centres for Disease Control and Prevention. No entanto, estima-se que serão necessários cerca de US$ 4 bilhões, de acordo com o diretor geral da organização, Dr. Jean Kaseya.

As consequências do surto de Mpox na África são preocupantes, gerando um estigma devido à aparente disseminação do vírus por relações sexuais, o que coloca em risco profissionais do sexo, jovens e pessoas vulneráveis. A transmissão ocorre por meio de contato com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados.

Cientistas ainda não analisaram todos os dados, mas equipes médicas indicam que o vírus pode estar associado a altas taxas de abortos e nascimentos de bebês com lesões de Mpox.

Um estudo realizado no ano anterior, com a participação da Fiocruz, revelou uma possível relação entre a monkeypox e agravamento da infecção por HIV.

Diante da situação, a Dra. Alakija alerta que se o surto estivesse em um país europeu, a Mpox já seria considerada uma grande emergência internacional. O adiamento das ações na RDC pode resultar em um aumento nos casos em países vizinhos e a disseminação do vírus na África e além.

No entanto, Lang acredita que se o vírus chegar à Europa ou aos Estados Unidos, a doença poderá ser contida com vacinação, semelhante ao que ocorreu em 2022.