A OpenAI revelou o GPT-4o na segunda-feira, mostrando os recursos de áudio em tempo real que fazem parecer que o filme de Spike Jonze, “Ela”, está se tornando realidade. Assim como no filme, a OpenAI deu ao ChatGPT uma voz dinâmica, amigável e, possivelmente, um pouco sedutora, que realmente soa como a de um humano. Vou fazer uma previsão antecipada e um tanto óbvia: as pessoas vão se apaixonar pelo GPT-4o, assim como no filme.
Não, não estou falando de se apaixonar como se ama o Google Search. Você adora usar o Google Search, mas eu acho que as pessoas vão literalmente se apaixonar pelo GPT-4o ou pelo que projetarem no robô sem vida.
Namoradas de IA já estão se mostrando um caso de uso preocupantemente grande para a tecnologia de IA generativa. Quando a OpenAI lançou a GPT Store, as namoradas de IA rapidamente dominaram a cena. Elas oferecem companhia, sem o peso real de um verdadeiro parceiro humano. Agora que o ChatGPT pode supostamente falar em tempo real com entonações emocionais, acho que a OpenAI realmente inovou nesse aspecto, mas talvez esse fosse o objetivo.
Não se deve subestimar o quão impressionante é essa tecnologia. As demonstrações da OpenAI supostamente mostram que os robôs agora podem conversar com humanos em tempo real, em uma conversa que é praticamente indistinguível de uma ligação telefônica com uma pessoa real. Se o lançamento final funcionar como a demonstração de segunda-feira, a OpenAI parece ter conectado os pontos para muitas pessoas sobre o quanto a IA irá mudar nosso mundo.
A equipe da OpenAI observou como essa tecnologia era exatamente como o filme “Ela”. Sam Altman twittou a palavra “ela” logo após o lançamento. Outro membro da equipe da OpenAI que trabalha em “pesquisa de AGI de áudio” tem uma foto do filme em sua biografia. Não houve engano, esse era o objetivo. Como frequentemente acontece no universo tecnológico, empresas inovadoras como a OpenAI avançam rapidamente e nos surpreendem com tecnologias sem considerar as repercussões.
Como vimos no filme “Ela”, o personagem de Joaquin Phoenix gradualmente se apaixonou por uma companheira de IA com a voz de Scarlett Johansson. É impossível não notar as semelhanças entre a voz de Johansson e aquela que a OpenAI estreou na segunda-feira de manhã. Em um ponto, o GPT-4o riu de uma piada feita por um membro da equipe da OpenAI. Em outro, o GPT-4o disse: “Isso é tão doce de sua parte.” Estou disposto a apostar que muitas pessoas por aí não têm alguém em suas vidas que diga qualquer uma dessas coisas. Aposto também que muitos deles aproveitariam a chance de ter pelo menos uma voz que o faça – artificial ou não.
A companhia é um caso de uso um tanto óbvio para um chatbot. Mas conversas de voz em tempo real oferecem mais intimidade do que simples texto na tela. A latência quase zero faz com que falar pareça natural, como um relacionamento à distância sempre que você quiser.
A natureza emocional do GPT-4o torna o chatbot de IA muito mais pessoal do que a Siri já foi. Siri parecia falar com um robô, mas essas demonstrações deixaram claro que o GPT-4o tem inteligência emocional artificial, capaz de identificar seus sentimentos e combinar sua energia. Isso faz com que o GPT-4o pareça um verdadeiro companheiro, adicionando um toque de humanidade ao sistema operacional de seu smartphone.
Já vimos um tumulto na comunidade quando o Replika lançou uma atualização para seu chatbot muito mais primitivo em 2023, que muitos usuários sentiram como se estivessem perdendo um amigo.
Mas há uma emoção humana que o GPT-4o não possui: a frustração. A equipe da OpenAI demonstrou como o GPT-4o não se importa em ser interrompido, uma reclamação muito real que as mulheres têm com parceiros masculinos. Isso mostra como alguns homens que são incapazes de manter um relacionamento significativo com uma mulher podem recorrer a um chatbot de IA como esse. Isso poderia oferecer a indivíduos solitários uma conexão significativa. Mas também poderia tornar muito mais fácil para as pessoas evitarem a necessidade de buscar crescimento para tentar algo real. O GPT-4o poderia tornar nossos dispositivos ainda mais tentadores do que as conexões humanas que muitos de nós já não têm, apenas por uma questão de conveniência.
Seria uma negligência não expressar preocupação com uma tecnologia como essa. Os humanos relatam níveis crescentes de solidão no século XXI. Um em cada três americanos se sente solitário toda semana. Embora a companhia possa não ser a principal proposta da OpenAI com o GPT-4o, esse pode ser o aspecto que mais chame a atenção das pessoas.
Esta não é a primeira vez que nossos dispositivos oferecem companhia, enquanto, na realidade, nos isolam ainda mais uns dos outros. As redes sociais capitalizaram no desejo humano inato por conexão, mas isso acabou por ser uma grande ilusão. Conexões humanas de baixo risco por trás da tela muitas vezes não dão certo e com frequência nos colocam uns contra os outros. Companheiros de IA como o GPT-4o levam esse fenômeno um passo adiante, removendo completamente o humano da equação.
Houve muito alarmismo em torno da IA generativa, mas este caso passou despercebido. A demonstração da OpenAI marcou a chegada de uma nova tecnologia e, potencialmente, um novo problema societal com o qual estaremos lidando por décadas. O pior efeito colateral que vi da tecnologia em minha vida é sua capacidade de isolar os seres humanos uns dos outros. O GPT-4o acabou de tornar esse isolamento ainda mais fácil.
