Se passear pela floresta em busca de cogumelos selvagens está na sua lista de desejos, vá em frente. Mas, na hora de determinar se os cogumelos que você colheu são comestíveis, por favor, não confie na inteligência artificial (IA).
Um novo relatório detalhado da Public Citizen, um grupo de defesa do consumidor sem fins lucrativos, adverte os novatos na coleta de cogumelos sobre o uso de ferramentas de identificação de IA para determinar se o que encontraram é comestível, destacando que identificar cogumelos é uma atividade de alto risco que requer habilidades do mundo real. O alerta da Public Citizen vem em meio a um aumento no interesse e buscas online por softwares e aplicativos de identificação de cogumelos nos últimos anos, afirma o relatório, citando dados do Google Trends.
Enquanto Rick Claypool, diretor de pesquisa da Public Citizen, afirma que aplicativos alimentados por IA podem ser ferramentas poderosas quando se trata de aprender mais sobre plantas e animais, essas consultas não podem ser comparadas à coleta de cogumelos, onde simplesmente tirar uma foto de um cogumelo e rodá-la por um aplicativo não é suficiente.
“Os coletores locais experientes sabem que não há substituto para encontrar, ver, cheirar, tocar e, às vezes, provar cogumelos selvagens onde e quando eles aparecem”, escreve Claypool no relatório. “O conhecimento local é vital, pois diferentes espécies são encontradas em diferentes partes do país.”
Uma foto do chapéu de um cogumelo, por exemplo, quase nunca é suficiente para identificar uma espécie com qualquer grau de confiança, observa Claypool. É crucial levar em consideração características na parte inferior do chapéu do cogumelo, a largura do chapéu, o caule e a base do caule. Além disso, os coletores de cogumelos devem observar onde o cogumelo está crescendo, como no solo ou na madeira. Se estiver crescendo na madeira, os coletores também precisam identificar a espécie dessa madeira.
Existem mais de 5.000 espécies de cogumelos carnudos na América do Norte, segundo o relatório, e ainda há muito que não sabemos sobre a maioria deles. 75 espécies desses cogumelos são conhecidas por serem mortais ou tóxicas, enquanto 36 são suspeitas de serem venenosas. Além disso, 40 são conhecidas por serem venenosas se consumidas cruas, mas são seguras para consumo depois de cozidas.
Pelo menos 133.000 casos de intoxicação por cogumelos foram relatados de 1999 a 2016. 704 desses casos resultaram em danos graves, enquanto 52 resultaram em morte.
Claypool continua afirmando que já existe alguma pesquisa sobre a precisão dos aplicativos de identificação de cogumelos – e os resultados não são tranquilizadores. Um estudo de 2022 realizado por pesquisadores de venenos australianos e que analisou três desses aplicativos de IA descobriu que, em média, eles identificavam corretamente os cogumelos selvagens apenas cerca de 50% do tempo. Em alguns casos, os aplicativos identificaram erroneamente cogumelos tóxicos como cogumelos comestíveis.
A falta de expertise da IA na identificação de cogumelos não se limita apenas aos aplicativos, porém. Claypool afirma que, em 2023, a Amazon foi inundada por livros de coleta de cogumelos gerados por IA, muitos dos quais continham informações incorretas e potencialmente fatais. Alguns dos livros de coleta de cogumelos na Amazon supostamente não indicavam que foram escritos por IA, relatou a 404 Media na época.
“Amazon e outros varejistas foram inundados com livros de coleta e identificação de IA”, disse a Sociedade de Micologia de Nova York em uma postagem no X, anteriormente conhecido como Twitter, em agosto de 2023. “Por favor, compre apenas livros de autores e coletadores conhecidos, isso pode literalmente significar vida ou morte.”
A integração da IA na pesquisa também é motivo de preocupação, aponta o relatório da Public Citizen. No ano passado, por exemplo, o Google deu a um usuário instruções passo a passo sobre como cozinhar amanita ocreata, um cogumelo mortal e tóxico. A IA generativa também é conhecida por criar imagens incorretas de certas espécies de cogumelos, o que pode confundir os novatos na coleta de cogumelos, segundo Claypool.
No geral, Claypool afirma que a identificação de cogumelos é apenas um dos muitos exemplos em que a dependência excessiva da tecnologia de IA pode levar a danos.
“Não importa o que as empresas que comercializam a tecnologia de IA prometam estar ao virar da esquina, automatizar a perícia individual ainda não é possível – e, na verdade, pode nunca ser”, escreve ele.
