Obras De Proteção Costeira Nem Sempre Evitam A Erosão Marinha.

Quase diariamente, um geógrafo da Universidade Estadual do Ceará (Uece) caminha pelas praias de Fortaleza e Caucaia e observa os efeitos dos espigões na costa. Ele constatou que as estruturas causaram séria erosão nas praias do município vizinho. Em uma das praias avaliadas, com 680 metros de extensão, a linha de costa retrocedeu 31 metros de 2004 a 2021, com uma média anual de 1,8 metros. Mais recentemente, de maio de 2021 a janeiro de 2022, o recuo foi de 2,9 metros. Quase 90% do trecho avaliado estava em constante processo de erosão, conforme estudo publicado em uma revista científica.

Apesar dos esforços da prefeitura de Caucaia em erguer muros de contenção, as medidas não deram certo. Essas estruturas rígidas acabaram ampliando a força das ondas e alterando as correntes marinhas, podendo levar ao desaparecimento das praias. Diante dessa situação, a administração da cidade anunciou um plano de construir 11 espigões em praias turísticas, com um custo estimado em R$ 44 milhões. Além dessas estruturas, também é preciso estabelecer diretrizes para o ordenamento territorial, definindo áreas para ocupação e preservação.

As obras de proteção costeira, como espigões, muros de contenção e quebra-mares, tornam-se cada vez mais necessárias ao longo da costa brasileira devido às mudanças climáticas, que tendem a intensificar fenômenos como a erosão marinha. No entanto, muitas dessas obras não atingem os resultados esperados e muitas vezes precisam ser corrigidas. A falta de estudos consistentes sobre os impactos dessas estruturas é apontada como uma das razões para o insucesso.

A gestão inadequada das obras costeiras, a falta de planejamento e a ausência de consideração dos impactos nas praias vizinhas são apontadas como problemas comuns em diversas regiões do Brasil. É necessário um melhor controle e direcionamento na construção dessas estruturas para garantir sua eficácia e minimizar impactos negativos.

Proteger a faixa de amortecimento, composta por dunas frontais e vegetação, é apontado como uma medida fundamental para conter a erosão. Praias urbanas que possuem essa faixa conseguem resistir melhor aos efeitos das ondas e das marés. A participação de especialistas em projetos de proteção costeira também é destacada como um caminho para o sucesso dessas obras.

A conscientização sobre os riscos da erosão marinha e a responsabilização dos gestores públicos são essenciais para reduzir os impactos sobre as zonas costeiras. A remoção ou contenção de construções irregulares ao longo da costa é uma medida importante para preservar o litoral e garantir a segurança das comunidades que ali habitam.