Por que as obras de proteção costeira nem sempre evitam a erosão marinha

Quase diariamente, um geógrafo da Universidade Estadual do Ceará caminha ao longo da orla de Fortaleza e Caucaia. Estudando as praias, ele percebeu que os 16 espigões de Fortaleza, construídos desde os anos 1960 para conter o avanço do mar, causaram intensa erosão nas praias de Caucaia. Um estudo recente mostrou que quase 90% das praias avaliadas estavam em constante processo de erosão.

O uso de muros de contenção em locais com perda contínua de areia mostrou-se ineficaz e até prejudicial. Em Fortaleza, por exemplo, a prefeitura precisou ampliar uma praia em 40 metros após uma obra de contenção em 2019.

As obras de proteção costeira, como espigões e quebra-mares, são necessárias ao longo da costa brasileira, especialmente devido ao aumento da erosão causado pelas mudanças climáticas. No entanto, muitas dessas obras são mal planejadas e acabam piorando a situação. Uma boa gestão do litoral, incluindo diretrizes claras para o ordenamento territorial, é essencial para evitar impactos negativos.

É importante diferenciar a erosão episódica, causada por eventos isolados, da erosão crônica, que é uma perda contínua de areia. Além disso, a preservação da faixa de amortecimento, composta por dunas e vegetação, pode ser uma solução eficaz para conter a erosão.

O envolvimento de especialistas na execução de obras costeiras pode aumentar as chances de sucesso. Projetos que contam com a participação de centros de pesquisa tendem a ter melhores resultados. A preservação das dunas e a manutenção da vegetação nativa são cruciais para a proteção das praias contra a erosão.

A conscientização e a responsabilização dos gestores públicos também são fundamentais para a preservação das zonas costeiras. Ações irregulares, como construções em áreas vulneráveis, devem ser coibidas para reduzir os impactos da erosão marinha e garantir a sustentabilidade das regiões litorâneas.