Pesquisas do Butantan utilizando peixe-zebra como biomonitor da qualidade da água

O Instituto Butantan está realizando pesquisas utilizando o zebrafish (Danio rerio), também conhecido como peixe-zebra ou paulistinha, como modelo para monitorar mudanças químicas e biológicas em águas de bacias hidrográficas, represas e efluentes, inclusive aqueles provenientes de desastres ambientais. Esse acompanhamento é feito por meio de um teste de baixo custo, que consegue identificar visualmente alterações morfológicas em embriões de zebrafish e indicar se a água analisada possui alta toxicidade.

Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, somente em 2023, 19 mil pessoas foram afetadas por doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA), um número maior do que em 2015, quando foram registrados 10 mil casos. O guia Vigilância e Controle da Qualidade da Água para Consumo Humano, do Ministério da Saúde, aponta que o desmatamento, erosão, assoreamento e contaminação são as principais causas de alterações químico-biológicas nos recursos hídricos.

Para melhorar a identificação de água imprópria para consumo, os pesquisadores do Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Instituto Butantan estão empregando o teste de toxicidade aguda utilizando embriões de zebrafish, um modelo descrito nas Diretrizes para Testes de Produtos Químicos da OCDE. Esse teste é reconhecido internacionalmente e pode oferecer resultados precisos em até 96 horas.

O zebrafish foi escolhido devido à sua semelhança genética com os seres humanos, que chega a 70%. Em relação aos genes responsáveis por doenças nas pessoas, a semelhança é de até 84%. Além disso, esse modelo animal possui características fisiológicas que facilitam a análise científica, sendo mais adequado do que modelos tradicionais como ratos e camundongos. O uso do peixe como modelo experimental alternativo foi reconhecido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em outubro de 2022.

O teste de toxicidade aguda em zebrafish avalia a mortalidade e deformidades causadas por agentes tóxicos. Os embriões são expostos à água a ser examinada em placas de cultura e qualquer alteração física é facilmente identificada, sem a necessidade de métodos invasivos. Os resultados podem ser observados em até 96 horas, permitindo uma análise mais rápida do que com outros métodos.

Esse monitoramento por meio de zebrafish é importante, pois independente do tipo de água, ela pode afetar a vida humana e de outros animais em diversas escalas. Facilitar o processo de identificação de água contaminada é essencial para garantir a precaução e a segurança da saúde pública.