Consórcio Que Inclui Brasileiros Sequência o Genoma Referência do Café Arábica

O café é uma das commodities mais negociadas no mundo e a espécie Coffea arabica é a mais consumida entre as cerca de 130 existentes. Ela é o resultado da fusão de duas outras espécies: Coffea canephora (conhecido no Brasil como café conilon ou robusta) e Coffea eugenioides. Nos últimos dez anos, quase todas as grandes commodities do mundo tiveram um genoma de referência sequenciado, mas o café só recentemente passou a integrar essa lista.

O genoma referência é crucial para o desenvolvimento de cultivares mais adaptados às mudanças climáticas e resistentes a doenças. Ao sequenciar o genoma referência do café arábica em um trabalho inédito, um consórcio de cientistas conseguiu selecionar genes possivelmente responsáveis (genes candidatos) pela resistência do café à ferrugem e a outras doenças. Em paralelo, identificou a expressão de alguns genes relacionados ao aroma do arábica.

Com o conhecimento do genoma é possível obter informações que permitem ir para dois lados: o do desenvolvimento de variedades por meio de direcionamento de cruzamentos, ou seja, como uma referência para nos guiar em futuros cruzamentos que produzam novas variedades; e o das intervenções mais diretas, como modificar um gene especificamente. Havia uma certa corrida para sequenciar esse genoma. O preço para fazer sequenciamento caiu muito e o café era das poucas commodities que ainda não tinham o genoma referência sequenciado. Já o grupo do qual Domingues faz parte sequenciou uma planta que, do ponto de vista agronômico, não tem interesse, mas do ponto de vista genético tem muito a oferecer.

Ao sequenciar um di-haploide derivado do café arábica, em comparação com um cultivar tetraploide comum, cientistas conseguem uma visão mais clara e simplificada do genoma. Isso permite identificar com maior precisão as variações entre genes similares, facilitando o uso das informações moleculares para estudos de melhoramento. Este estudo esclarece como as interações entre os genes de C. canephora e C. eugenoides estão associadas a características do café arábica, como o aroma. Elucidar as interações entre genes ajuda a melhorar nosso conhecimento sobre os mecanismos genéticos subjacentes a características importantes do arábica, um pré-requisito fundamental para desenvolver novas variedades que garantirão a produção de grãos de café para futuros produtos cafeeiros.