Borboleta Amazônica Surgiu Do Cruzamento Entre Duas Espécies

Um grupo de pesquisadores de diversos países descobriu que a borboleta Heliconius elevatus, originária da Amazônia, é uma espécie híbrida. Essa constatação, publicada recentemente na revista Nature, confirma uma antiga suspeita de que algumas espécies de borboletas surgiram da mistura entre outras.
Essa espécie foi descrita em 1901 pelo naturalista alemão Emil Nöldner e resultou do cruzamento entre outras duas do mesmo gênero, H. pardalinus e H. melpomene. A hibridização ocorreu aproximadamente 180 mil anos atrás, de acordo com análises genéticas. Essas três espécies estão presentes em toda a extensão da floresta amazônica.
Normalmente, o cruzamento entre espécies evolutivamente próximas acontece na natureza, mas é raro originar descendentes férteis que persistem por várias gerações. No entanto, no caso da H. elevatus, isso não ocorreu, e a espécie permaneceu ao longo dos milênios. Mesmo assim, as borboletas atuais possuem uma contribuição genética desigual das duas espécies originais: 99% do material genético é semelhante ao de H. pardalinus, e apenas 1% ao de H. melpomene.
Essa pequena proporção influencia a aparência da borboleta, principalmente nas asas, devido aos genes herdados de H. melpomene que conferem desenhos e cores característicos. Essa semelhança com o padrão da espécie parental é relevante para afastar aves predadoras. Enquanto a pequena quantidade de genes de H. melpomene se manteve na nova espécie graças à seleção natural, 99% do genoma veio de H. pardalinus.
Além das análises genéticas, os pesquisadores consideraram o comportamento, o formato das asas e a relação com as plantas consumidas pelas lagartas para distinguir as espécies. A comprovação genética da hipótese da hibridização é recente, mas muitos já desconfiavam dessa teoria há décadas devido às semelhanças nos desenhos das asas.
O estudo, parte de um projeto maior sobre borboletas do gênero Heliconius, resultou de uma expedição à Amazônia, que percorreu cerca de 900 km, obtendo dados sobre a distribuição genética e biogeográfica desses insetos. Os resultados continuam sendo analisados e rendendo novas descobertas sobre essas espécies.